terça-feira, 7 de setembro de 2010

Tendências contemporâneas: momento histórico

   Nas últimas décadas, a cultura brasileira vivenciou um período de acentuado desenvolvimento tecnológico e industrial; entretanto, neste período ocorreram diversas crises no campo político e social.
   O período de normalidade democrática após a deposição de Getúlio Vargas (1945) durou menos de 20 anos. À euforia desenvolvimentista do governo Kubitschek (1956-1961) sucederam-se crises políticas que levaram a um golpe militar (1964). O novo período ditatorial, mais longo que o do Estado Novo, duraria vinte anos, encerrando-se apenas em 1985, com a eleição de Tancredo Neves.
   Os conflitos político-ideológicos de todo esse período refletiram-se intensamente na produção artística e literária. As décadas de 1960 e 1970 foram marcadas pela supressão dos direitos civis através de Atos Institucionais, pela cassação de direitos políticos, pela censura aos meios de comunicação e às manifestações artísticas, pela repressão policia, pelo exílio dos opositores ao regime e pela prática da tortura. Paralelamente, o regime militar deu continuidade à abertura da economia ao capital estrangeiro e promoveu o “ milagre econômico” (governo Médici) visando a tornar o Brasil uma potência emergente.
   Após a grande campanha pelas eleições diretas, o primeiro presidente civil, Tancredo Neves, foi ainda eleito indiretamente e morreu antes de tomar posse. O cargo foi assumido pelo vice presidente José Sarney (1958-1990): durante seu governo foi elaborada a atual Constituição, que ampliou os direitos individuais e a liberdade civil. Em 1990, a primeira eleição direta criou grandes esperanças de renovação, frustradas pelos escândalos, corrupção e incompetência, que levaram ao afastamento do presidente, Fernando Collor de Mello (1992).
   As últimas décadas (governos Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso e Luís Inácio Lula da Silva) têm sido marcadas pela busca da estabilidade econômica e pelas reformas institucionais. Consolidada a democracia, os grandes problemas sociais – distribuição de renda, educação, saúde, moradia, reforma agrária, preservação do ambiente...- continuam na pauta de todas as discussões e no centro dos anseios coletivos.

Características literárias das tendências contemporâneas da literatura brasileira

- Insistência na representação ficcional da violência: a idéia da literatura como representação da violência surgiu a partir no de 1960, com o período da ditadura militar e a entrada do país do circuito do capitalismo.
- Dependência da produção cultural ao mercado: após a abertura politica com 1980 a produção literaria sofre problemas pois a literatura acaba se tornando uma mercadoria para a renda capitalista do país.
-Influência da cultura de massa: influência da maior parte da sociedade na literatura, tornando-a popular.
-Literatura de apelo versus apego à convenção literária: a literatura de apego atende a nessecidade de emoções fortes dos leitores e busca uma representação imediata da realidade, enquanto a convenção literária trata do artificialismo pós-moderno, realizando mistura de estilos, paródias, colagem, sitações e alusões.
-Tensão entra formalismo e engajamento: formalismo é a experimentação estética radical, e ireal. Engajamento é o compromisso sócio-político, nessecidade de expressar a vida.

Principais tendências da literatura contenporânea

Poesia



Um sucessão de novas vanguardas poéticas oscila entre o formalismo (estética radical, e não-comprometimento da literatura), e a participação (o compromisso sócio-político, adesão da arte à necessidade de expressar a vida). Em ambas as tendências, verifica-se uma interpretação entre a palavra, a musica popular e a crítica como demonstram seus movimentos artísticos, exemplo: bossa-nova.


Concretismo


O Concretismo começa a despontar no Brasil com a publicação da revista Noigandres pelos três poetas: Décio Pignatari, Haroldo de Campos e Augusto de Campos. Porém, fixa-se no Brasil com a Exposição Nacional de Arte Concreta, em 1956, no Museu de Arte Moderna de São Paulo.
O poema concretista é chamado de poema-objeto por causa dos recursos estilísticos adotados: a eliminação de versos e a incorporação de figuras geométricas. Os poemas concretos possuem carga semântica, mas diferenciam-se por enfatizar o conteúdo visual e sonoro das palavras.

Durante o Concretismo no Brasil, houve diferenciação entre tipos de poesia. Vejamos:


● Poesia-Práxis: Lançada a partir de 1961 com o Manifesto Didático, liderada por Mário Chamie, considerava a palavra um organismo vivo, o qual gera o outro.
● Poesia social: movimento de reação contra a poesia concreta por poetas que a considerava exagerada em formalismo. Propunham a volta dos versos, a linguagem simples e a visão da poesia como instrumento de expressão social e política. É ilustrador dessa perspectiva: Ferreira Gullar.
● Tropicalismo: movimento musical dos anos 67 e 68, que contribuiu para a literatura com a visão de aproveitamento de qualquer estética literária, sem preconceitos. Essa manifestação resultou em certo anarquismo, porém rigorosamente censurado.
● Poesia Marginal dos anos 70: poesia sem edição, livre dos padrões de produção e distribuição, com tiragem pequena. Alguns autores dessa prática são conhecidos: Paulo Leminski e Chacal.

Prosa

   Os prosadores tiveram uma participação menos intensa nos movimentos experimentalistas desse período. Neste período usará muitos aspectos expressivos, e predução de aluns contistas e romancistas contemporâneos que confirmam a maturidade da nossa literatura.
   Na ficção psicológica de tom intimista e ao mesmo tempo engajado, destacam-se Dionélio Machado, Lígia Fagundes Telles, Fernando Sabino, Carlos Heitor Cony, Dalton Trevisan, Antonio Callado e Hermilo Borda Filho.
   Como exemplo podemos citar Fernando Sabino, que publicou "O encontro marcado" no ano de 1956, que focaliza a geração que amadureceu durante a Segunda Guerra mundial, com seus sonhos e desilusões, e Carlos Heitor Cony, que publicou "A Travessia" em 1967, que retrata o universo burguês degradado , num exemplo penetrante de neo-realismo psicológico, que antecede a manifestação de uma postura mais explicitamente política, dando ênfase ao compromisso do indivíduo perante a sociedade.


Da década de 1980 à atualidade


   Como poesia, alguns autores de ficção mais representativos iniciaram seu percurso nas décadas anteriores: Domingos Pellegrini, Ignácio Logyola Brandão, Ivan Ângelo, Luiz Vilela, Marina Colasanti, Roberto Drummond, Sérgio Sant’Ana, Siviano Santiago.
   Entre as tendência da prosa das últimas décadas, destacam-se o thriller e a novela policial, que como no cinema americano e na televisão, utilizam a violência como tema de impacto.
   Um conto de um dos novíssimos autores que exemplifica com perfeição o tom e o estilo dos novos prosadores é o: Socorrinho, de Marcelino Freire. O Texto exige um leitura muito atenta às mudanças de vozes, de pontos de vista e de situações.

Teatro: Renascimento do Gênero

   A origem do teatro pode ser remontada desde as primeiras sociedades primitivas, em que acreditava-se no uso de danças imitativas como propiciadores de poderes sobrenaturais que controlavam todos os fatos necessários à sobrevivência (fertilidade da terra, casa, sucesso nas batalhas etc), ainda possuindo também caráter de exorcização dos maus espíritos. Portanto, o teatro em suas origens possuía um caráter ritualístico. No Brasil, o teatro tem sua origem com as representações de catequização dos índios. As peças eram escritas com intenções didáticas, procurando sempre encontrar meios de traduzir a crença cristã para a cultura indígena. Uma origem do teatro no Brasil se deveu à Companhia de Jesus, ordem que se encarregou da expansão da crença pelos países colonizados. Os autores do teatro nesse período foram o Padre José de Anchieta e o Padre Antônio Vieira. As representações eram realizadas com grande carga dramática e com alguns efeitos cênicos, para a maior efetividade da lição de religiosidade que as representações cênicas procuravam inculcar nas mentes aborígines.

  O teatro é o gênero menos desenvolvido ao longo do período modernista. O desencadeamento deste gênero ocorreu durante a 2ª guerra mundial, onde profissionais do teatro estrangeiro chegaram ao Brasil provocando mudanças.

   Destacam-se também alguns autores brasileiros neste renascimento teatral: Nelson Rodrigues (A mulher sem pecado, 1939), Jorge Andrade (Pedreira das Almas, 1958), Chico Buarque (Calabar, 1973) e Ariano Suassuna (Auto da Compadecida, 1959). Um exemplo é a obra o Auto da Compadecida, a peça retoma com diálogos simples e vivos, o famoso “jeitinho brasileiro”.

   Abordando temas universais como a avareza humana e suas amargas conseqüências, por meio de personagens populares, Suassuna, nesta obra, prepara o espectador para um desfecho moralizante conforme os preceitos do cristianismo católico.

   Ariano Suassuna consegue realizar uma magnífica síntese de duas tradições: a dos autos da era medieval e a da literatura picaresca espanhola. Na era medieval, a cultura era indissociável da religião, mesmo porque a Igreja controlava tudo com mão de ferro. A Igreja cultivava os autos dramáticos de devoção aos santos para doutrinar e tolerava os autos cômicos para divertir o povo. A tradição da literatura picaresca espanhola vem da cultura popular e chega ao ápice no Dom Quixote, de Cervantes.